OS RECENSEAMENTOS EM CABO VERDE: TRAJETÓRIA E CONTEÚDOS

A realização de operações censitárias foi iniciada em Cabo Verde em 1878, mas foi a partir de 1960 que os recenseamentos começaram a serem feitos com uma periodicidade decenal, conforme as recomendações da Organização das Nações Unidas (ONU).

O Recenseamento Geral da População de 1960 e de 1970, foram realizados pela Secção de Estatística Geral da Província de Cabo Verde, com recurso a um único boletim de família.

Cinco anos após a Independência Nacional, foi realizado o Recenseamento Geral da População e Habitação de 1980, sendo o primeiro como Cabo Verde Independente. Foi executado pela Direção de Recenseamentos e Inquéritos (DRI), em colaboração com a Comissão Nacional de Recenseamento (CNR), Comissão Técnica Executiva (CTE) e Comissão de Informação e Publicidade (CIP), órgãos criados para apoiar a DRI na materialização das diferentes atividades desta operação.

Tratando-se do primeiro realizado após a Independência, marcou uma nova etapa na história dos recenseamentos até então organizados no país. Houve avanços consideráveis nas diferentes etapas da sua realização, seguindo as recomendações da ONU, e, foi orientado para responder às necessidades de planificação mediante aplicação de dois boletins para a recolha de dados, o de família e o do alojamento coletivo. Para além disso, houve outras duas grandes inovações na realização deste recenseamento: a primeira refere-se à inclusão de perguntas sobre as características da habitação, e, a segunda a utilização de computador pela primeira vez, em Cabo Verde, em todo o processo de tratamento e análise de dados.

O segundo após a independência, foi realizado em 1990 (RGPH-1990), pela Direção Geral de Estatística (DGE), através da Divisão de Censos e Inquéritos (DCI), departamento responsável exclusivamente para assegurar a sua implementação.

Com vista a dar continuidade aos avanços alcançados em 1980, e melhorar cada vez mais a qualidade das informações, foi criada em cada concelho uma estrutura organizativa denominada Comissão Técnica de Apoio (CTA), composta por um delegado, um supervisor por freguesia, um controlador e um recenseador por Distrito de Recenseamento (DR), que tinha por função apoiar a DCI a nível de cada concelho. Esse recenseamento foi executado com recurso a 2 boletins (um de família e outro de convivência), e, o tratamento dos dados também foi feito com recurso à informática.

O Governo de Cabo Verde iniciou em 1996, a reforma do SEN estruturado em três pilares: o Conselho Nacional de Estatística, o INE que é o órgão central do sistema, a quem cabe a produção das estatísticas gerais e a coordenação técnica; e os Órgãos Produtores de Estatísticas Sectoriais. É neste quadro institucional que foi realizado o RGPH – 2000. O INE foi o seu executor, através do Gabinete do Censo 2000, uma estrutura ad-hoc constituída por uma equipa de trabalho, com organização própria a quem competia assegurar a realização do RGPH-2000. Para apoiar esta estrutura na materialização das atividades, cada concelho foi dotado de um coordenador que foi o principal responsável técnico a nível da sua área territorial e de um Comité Regional do Recenseamento (CRR).

Nesse recenseamento houve grandes inovações em relação ao anterior e, pela primeira vez foi feito o recenseamento dos sem abrigo. O tratamento dos dados compreendeu a preparação do sistema informático, a codificação e controle de qualidade, a digitação e a tabulação. No domínio da cartografia censitária foi feito o inventário dos equipamentos coletivos existentes nos bairros assim como o levantamento das coordenadas GPS das estruturas de saúde e de educação, e a realização do pré-recenseamento agrícola.

O IV Recenseamento Geral da População e Habitação de 2010 (RGPH-2010) também foi executado pelo INE, através do Gabinete do Censo. Para apoiar este Gabinete, foi contratado, em cada concelho, um coordenador e criado uma Comissão de Coordenação Concelhia (CCC).

O RGPH-2010 trouxe inovações tecnológicas. Pela primeira vez em Cabo Verde, fez-se a substituição da recolha de dados dos questionários em formato papel para a recolha com utilização do computador de mão ou Personal Digital Assistent (PDA). Foi também desenvolvido um aplicativo informático para transmissão dos dados via WEB, dos postos de trabalho para o servidor do INE, permitindo uma apuração dos dados praticamente instantânea. Diferentemente dos recenseamentos anteriores, foi implementada uma cartografia digital, com recurso ao Sistema de Informação Geográfica (SIG). Utilizou-se pela primeira vez mapas digitais, que já vinham incorporados nos PDA’s, que também dispunham de recetores GPS. À semelhança do RGPH-2000, a nível da cartografia foi feito também o pré-recenseamento agrícola.